Envelhecimento ativo: como promover a saúde e a qualidade de vida na terceira idade

Nos últimas duas décadas, o número de beneficiários com mais de 60 anos nos planos de saúde brasileiros dobrou, passando de 3,3 milhões no ano 2000 para 6,6 milhões em 2020, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Com o aumento da longevidade da população, a previsão é que esse processo de transição demográfica continue ao longo do tempo e que o país chegue ao ano de 2060 com mais idosos do que jovens na sua população,

Isso está fazendo com que o custo médico assistencial das operadoras avance a cada ano. Afinal de contas, quanto maior a faixa etária da carteira de usuários do plano, maior é a previsão de gastos.

Diante dessa perspectiva, desenvolver projetos e programas voltados à promoção do envelhecimento ativo passa a ser uma prioridade estratégica para manter a sustentabilidade das empresas que atuam na saúde suplementar.

Neste artigo, vamos entender melhor esse conceito e sugerir algumas ações que a sua operadora pode tomar para manter a saúde e a qualidade de vida dos beneficiários da terceira idade.

envelhecimento ativo

O que é envelhecimento ativo

O envelhecimento ativo é um conceito desenvolvido pela Unidade de Envelhecimento e Curso de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS) que envolve o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.

Ele implica no desenvolvimento e na manutenção da capacidade funcional dos indivíduos ao longo da vida, para que mais pessoas cheguem à idade avançada com independência e autonomia.

Já está comprovado que a manutenção da independência é um dos fatores que mais contribui para a qualidade de vida e que a pessoa que se mantém ativa física, social e mentalmente sofrerá menos com problemas relacionados a perdas funcionais na terceira idade.

Segundo a OMS, o envelhecimento ativo envolve o processo de conquista de oportunidades contínuas em três pilares: saúde, participação e segurança.

Neste artigo vamos nos concentrar no pilar da saúde, que envolve as seguintes diretrizes traçadas pela entidade:

  1. Prevenir e reduzir a carga de deficiências em excesso, doenças crônicas e mortalidade prematura.
  2. Reduzir os fatores de risco associados às principais doenças e aumentar os fatores que protegem a saúde durante a vida.
  3. Desenvolver um contínuo de serviços sociais e de saúde acessíveis, baratos, de alta qualidade e adequados para a terceira idade, que aborde as necessidades e os direitos de homens e mulheres em processo de envelhecimento.
  4. Fornecer treinamento e educação para cuidadores.

O objetivo fundamental dessa estratégia é atingir uma melhor qualidade de vida pelo maior tempo possível para o maior número possível de pessoas, reforçando que a saúde do idoso envolve a manutenção da sua autonomia e capacidade funcional, e não somente a ausência de doenças.

E a melhor maneira de garantir isso para nossa crescente população idosa é investindo na prevenção de doenças e na promoção de saúde ao longo da vida.

Características da população idosa

Antes de começar a planejar ações para promover o envelhecimento ativo, é preciso reconhecer que os idosos não formam um grupo homogêneo e que a diversidade entre os indivíduos costuma aumentar com a idade.

Contudo, existem algumas particularidades bem determinadas que caracterizam essa população:

  • Maior prevalência de doenças crônicas, que geram mais custos.
  • Maiores fragilidades, tanto no aspecto físico quanto no psicológico.
  • Menor disponibilidade de recursos sociais e financeiros.

Devido a essas características, até pouco tempo atrás o cuidado ao idoso costumava ser focado exclusivamente na doença e envolvia uma série de consultas com especialistas, informações não compartilhadas, um excesso de prescrição medicamentosa com risco de interação inadequada de vários fármacos.

Atualmente, este modelo é considerado ultrapassado.

De acordo com a OMS, a atenção a esse grupo deve ser organizada de maneira integrada, com cuidados, coordenados ao longo do percurso assistencial numa lógica de rede. Sendo assim, os profissionais de saúde envolvidos no cuidado ao idoso devem desenvolver uma atenção integral e interdisciplinar com base na clínica ampliada.

No que se refere ao planejamento das operadoras de saúde, é importante observar que o envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos populacionais.

Afinal de contas, o processo de envelhecimento não se dá apenas na esfera individual. Ele ocorre dentro de um contexto que envolve outras pessoas, como familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho.

É por isso que os projetos nessa área devem considerar a promoção da saúde mental e das relações sociais como ações tão importantes quanto aquelas que melhoram as condições físicas de saúde.

Cuidados específicos para o beneficiário idoso

Ao levarmos em conta as características expostas acima, fica clara a necessidade e a importância de desenvolver cuidados específicos voltados para os idosos.

Como neste segmento populacional as doenças crônicas e as grandes síndromes geriátricas podem ser encontradas isoladamente ou em associação, é fundamental reconhecer que um idoso sem nenhum destes agravos demanda cuidados diferentes de um idoso com demência, acamado e com imobilidade.

Por isso, o primeiro passo para construir uma estratégia de promoção do envelhecimento ativo é identificar e estratificar os beneficiários com 60 anos ou mais dentro da carteira de usuários do plano.

O objetivo é segmentar essa população de acordo com os riscos e síndromes identificados no levantamento do perfil epidemiológico e propor medidas visando as condições específicas de cada grupo.

Segundo a ANS, o atendimento interdisciplinar à saúde do idoso deve ser o eixo norteador dessas iniciativas, a fim de alcançar os seguintes objetivos:

  • atingir o grau máximo de capacidade funcional
  • evitar a hospitalização prolongada,
  • evitar a institucionalização e promover e facilitar cuidados familiares.

A agência destaca ainda a importância para as operadoras de manter um registro eletrônico que contenha um repositório de informações acessíveis, não apenas aos profissionais de saúde, mas ao próprio idoso e seus cuidadores.

Este registro deve conter dados como internações, exames realizados, medicações utilizadas, nos moldes da hoje existente Caderneta do Idoso.

Além de prevenir progressivas perdas funcionais, esse sistema de informações busca resguardar o idoso da iatrogenia, evitando-se tratamentos e medicamentos desnecessários.

Uma abordagem de curso de vida

A perspectiva de curso de vida para o envelhecimento ativo tem como base a ideia de que as intervenções que criam ambientes de apoio e promovem opções saudáveis são importantes em todos os estágios da vida.

Conforme os indivíduos envelhecem, as doenças crônicas transformam-se nas principais causas de morbidade, incapacidade e mortalidade, acarretando altos custos para indivíduos, famílias e prestadoras de saúde

Nesse contexto, reconhecemos que a capacidade funcional (como capacidade ventilatória, força muscular e débito cardíaco) aumenta durante a infância e atinge seu pico nos primeiros anos da vida adulta, entrando em declínio em seguida.

Contudo, a velocidade desse declínio é fortemente determinada por fatores relacionados ao estilo de vida na vida adulta (tabagismo, consumo de álcool, nível de atividade física e dieta alimenta), além de fatores externos e ambientais.

O declínio da capacidade funcional pode ser tão acentuado que resulte em uma deficiência prematura. Contudo, sua aceleração pode ser reversível em qualquer idade por meio de medidas individuais e coletivas.

Sendo assim, programas e políticas de envelhecimento ativo devem incentivar e equilibrar responsabilidade pessoal (cuidado consigo mesmo), ambientes amistosos para a faixa etária e solidariedade entre gerações.

As famílias e os indivíduos devem se planejar para a velhice e se esforçar pessoalmente para adotar uma postura de práticas saudáveis em todas as fases da vida. Ao mesmo tempo, é necessário criar ambientes de apoio para que as opções saudáveis sejam mais fáceis de serem adotadas.

 


Manutenção da saúde e envelhecimento ativo

Quando os fatores de risco (comportamentais e ambientais) de doenças crônicas e de declínio funcional são mantidos baixos, as pessoas permanecem sadias e capazes de cuidar da própria vida à medida que envelhecem.

O objetivo principal de um programa de envelhecimento ativo é que poucos idosos precisem constantemente de tratamentos médicos e serviços assistenciais onerosos.

Confira a seguir algumas propostas da OMS para incorporar o envelhecimento ativo na área de saúde:

Objetivos e metas: Fixar metas mensuráveis e específicas para gênero em relação a melhorias na saúde de idosos e redução de doenças crônicas, deficiências e mortalidade prematura durante o processo de envelhecimento.

Prevenção e tratamentos eficazes: Oferecer serviços de triagem que sejam comprovadamente eficazes e não onerosos a homens e mulheres em processo de envelhecimento.

Ambientes seguros e apropriados para idosos: Criar unidades de saúde e padrões assistenciais apropriados para idosos, que ajudam a prevenir o surgimento ou agravamento de deficiências. Promover a caminhada segura, implementar programas de prevenção de quedas, eliminar riscos nos lares e oferecer informações sobre segurança.

Audição e visão: Reduzir a perda auditiva evitável através de medidas preventivas apropriadas e apoiar o acesso a aparelhos auditivos para as pessoas mais velhas. Oferecer serviços oftalmológicos adequados para os portadores de deficiência visual relacionada à idade.

Qualidade de vida: Colocar em vigor políticas e programas que melhorem a qualidade de vida de pessoas com deficiências e doenças crônicas. Apoiar sua independência contínua e sua interdependência, através de mudanças no ambiente, oferta de serviços de reabilitação e apoio comunitário para os familiares, e facilidade de acesso aos equipamentos necessários (como óculos, andadores).

Apoio social: Reduzir os riscos da solidão e do isolamento social por meio de apoio a grupos de autoajuda e cooperação, programas comunitários, visitas comunitárias, programas de apoio por telefone e cuidadores familiares.

Saúde mental: Promover saúde mental positiva durante o curso da vida, oferecer informações e desafiar crenças estereotipadas sobre problemas de saúde mental e doenças mentais.

Tabagismo e alcoolismo: Fornecer às pessoas mais velhas ajuda para abandonar o vício no álcool e no tabaco.

Atividade física: Desenvolver informações e diretrizes, culturalmente apropriadas e baseadas na população, sobre atividades físicas para homens e mulheres idosos. Fornecer oportunidades para os idosos permanecerem ativos, criando grupos para promover a atividade física regular e moderada para pessoas durante o processo de envelhecimento. Informar e treinar os indivíduos e profissionais sobre a importância de permanecer ativo após os 60 anos.

Alimentação saudável: Promover a alimentação saudável por meio da divulgação de informações (incluindo informações específicas sobre as necessidades nutricionais dos idosos) e educação sobre nutrição em todas as idades.

Saúde oral: Promover a saúde oral entre os idosos e incentivar mulheres e homens a conservarem seus dentes naturais enquanto for possível.

Fatores psicológicos: Incentivar e permitir que as pessoas desenvolvam autonomia, habilidades cognitivas, como resolver problemas, comportamento voltado para o social e capacidade para lidar de maneira eficaz com diferentes situações. Reconhecer e explorar a experiência e o vigor dos idosos para ajudá-los a melhorar seu bem estar psicológico

Medicamentos: Aumentar o acesso aos medicamentos seguros e essenciais para os idosos e implementar práticas para reduzir a prescrição inadequada. Informar e educar as pessoas sobre o uso prudente de medicamentos.

Adesão a tratamentos: Assegurar medidas abrangentes para entender melhor e corrigir a pouca adesão dos pacientes idosos a tratamentos médicos, que comprometem seriamente sua eficácia, especialmente quando se trata do controle de doenças crônicas.

Continuidade da assistência: Fornecer continuidade de cuidados para homens e mulheres durante o envelhecimento, considerando suas opiniões e preferências. Reorientar os sistemas atuais para que forneçam continuidade de assistência, incluindo a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento apropriado de doenças crônicas, a provisão equânime de apoio comunitário e cuidados paliativos e de longo prazo durante todos os estágios da vida.

Serviços de saúde mental: Dar atenção especial ao aumento de depressão e tendência suicida devido à perda e ao isolamento social. Fornecer cuidados de qualidade para idosos com demência e outros problemas cognitivos e neurológicos.

Iatrogênese: Prevenir doenças e deficiências causadas pelo processo de diagnóstico ou tratamento. Estabelecer um sistema adequado para evitar reações medicamentosas adversas, com foco especial na velhice.

Envelhecer em casa: Proporcionar programas e serviços que capacitem as pessoas a permanecerem em casa durante a velhice, com ou sem outros familiares, de acordo com as circunstâncias e preferências.

Treinamento para cuidadores informais: Fornecer aos familiares informações e treinamento sobre como cuidar daqueles que estão envelhecendo.

Treinamento para cuidadores formais: Educar os profissionais de saúde sobre modelos capacitadores de cuidados primários e de longo prazo. Incentivar e capacitar esses profissionais para estimular o autocuidado e orientar sobre hábitos saudáveis. Treinar os trabalhadores da saúde para identificar os idosos que correm risco de solidão e isolamento social. Agregar às equipes multidisciplinares profissionais especializados em geriatria e gerontologia.

O que sua operadora pode fazer na prática

Agora que você já conhece as recomendações da ANS e da OMS para o cuidado integral da população idosa, que tal colocá-las em prática formatando programas de promoção do envelhecimento ativo na sua operadora?

Entre outras iniciativas, esses programas podem contemplar as seguintes atividades para a promoção de hábitos de vida saudáveis:

  • programas de reeducação alimentar,
  • palestras sobre a prevenção de doenças crônicas,
  • estímulo à realização de exames preventivos,
  • formação de grupos para prática de atividades físicas.

É importante lembrar que o envelhecimento ativo é um processo que deve ocorrer ao longo do curso da vida do beneficiário. Por isso, pense em algumas ações para alcançar indivíduos de todas as idades.

Por exemplo, os programas de alimentação saudável podem ser extensivos a todas as faixas etárias existentes no plano. Mesmo o estímulo à atividade física e o combate ao sedentarismo podem ser direcionados a todas as faixas etárias, desde que conjugado com ações específicas para obesos, hipertensos ou diabéticos.

Outra ação importante para garantir a adesão dos beneficiários idosos aos programas da sua operadora é oferecer incentivos, como um desconto na mensalidade do plano para quem participar de programas para promoção do envelhecimento ativo, cumprindo algumas regras determinadas pela ANS

Em suma, os gestores das operadoras devem entender que o envelhecimento populacional é hoje um dos maiores triunfos e também um dos maiores desafios da humanidade.

No contexto do sistema de saúde suplementar brasileiro, essa transição demográfica pode representar tanto um problema de sustentabilidade financeira quanto uma excelente oportunidade de promover melhorias em toda a rede de serviços.

Qual dessas duas situações a sua operadora prefere enfrentar?

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